quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Submarino

Submerso, não procuro
a cura
na saída de emergência
Subentendo
que meu submundo
é minha
sobrevivência

(afundo profundo prefiro
esta interna meninice
e sugiro
um retiro de loucura
à super superfície)

Atrizes, atrizes



Giulietta Masina


Gregory Corso- Poeta Americano






Poetas Pedindo Carona à Beira da Estrada


Claro que eu tentei lhe dizer

mas ele virou a cara

sem sequer desculpar-se

Eu lhe disse que o céu persegue

o sol

E ele sorriu e disse:"Sim e daí?"

Eu me sentia como um demônio

outra vez

Por isso disse:"Mas o oceano persegueos peixes."

Desta vez ele riu

e disse: "Suponho queos morangos foram empurrados para uma montanha."

Depois disso vi que aguerra estava declarada...Então lutamos:

Ele disse:"A carroça das maçãs como uma

njo numa vassoura

racha & lasca

velhos tamancos holandeses.

"Eu disse:"O relâmpago vai cair no velho carvalho

e libertar a fumaça!"

Ele disse:"Rua louca sem nome.

"Eu disse:"Assassino careca! Assassino careca! Assassino careca."

Ele disse, perdendo a cabeça de uma vez por todas,

"Fogões! Gasolina! Divã"

Eu, sorrindo, disse apenas:"Sei que Deus voltaria sua cabeça

caso eu me sentasse calado e pensasse."

Acabamos evaporando

com ódio do ar!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Um pouco de Zeca Baleiro



A depender de mim


A depender de mim

Os psicanalistas estão fritos

Eu mesmo é que resolvo os meus conflitos

Com aspirina amor ou com cachaça

Os gritos todos virarão fumaça

A dor é coisa que dói e que passa

Curar feridas só o tempo há de

Toda regra para o bem da humanidade

É certo necessita de uma exceção


A depender de mim

Os publicitários viram bolhas

Eu sei como fazer minhas escolhas

E assumir os erros que lá vem

Se a alma finca pé os medos somem

Menino nunca deixe que te domem

Mau pai dizia o verdadeiro homem

Sabe o que quer ainda que não queira

Besteira é não seguir o coração


A depender de mim

Os padres e pastores serão tristes

Eu penso mesmo que deus não existe

E ainda assim quem sabe eu creia em deus

Se deus é o outro nome da verdade

Deste momento até a eternidade

Eu levo entre mentiras e trapaças

Besta felicidade frágil farsa

Do que preciso riso preces e paixão

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Desenhos que poderiam ser poemas

O nome desse artista é Shiko. Procurem.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Marcelo Mirisola e o Ódio Brasileiro

"O importante é não esquecer que o ódio nos espreita e carrega milhões de disfarces e boas intenções, o ódio brasileiro afaga, convida pra ir jantar e é o melhor anfitrião do mundo, o ódio é doce como uma compota caseira e sempre concorda contigo, ele é o rei dos elogios e às vezes aponta pequenos defeitos para valorizar as virtudes que nem você sabia que tinha, o ódio é surpreendente e encantador, ele tem muita paciência, o ódio é desprendido e jamais vai perder o timing, ele é a Vovó da Casa do Pão de Queijo, ele é bom vizinho que planeja seu fim toda vez que o beija na face e, uma hora, – pode escrever - ele vai dar o bote e estragar tudo, de leste a oeste e de norte a sul. Ininterruptamente. Portanto, quem puder amar, que ame e seja feliz e atire a primeira flor..."

Leia todo o texto: http://congressoemfoco.uol.com.br/coluna.asp?cod_canal=14&cod_publicacao=35378&filha=1

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Sem qualquer intenção

Olha, não venha me dizer o que eu não posso fazer
pois é daí que vem a força e aí é bem pior
e eu fico bem melhor
então nem precisa tanto incentivo assim
pra mim,
tá entendendo?

Formiga de fogo, mermão, formiga de fogo.
Nem aí pra pata de elefante.
O céu com lua ou sem lua sempre é o céu
não importa o que diga a mulher do tempo
na televisão.
Pois então,
quero mais é que falem mal.
Quero ver quem ri com dentes e gengivas
no final.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Pele sobre pele

Teu corpo é por onde amanheço invertido
Livre de minhas virtudes
Lúcido e ácido
Por entre as boas maneiras ao pé da cama
Por antros à toa esquecidos na noite
Por todas as cores e sons de nós dois
Eu procuro os trocados no bolso da calça
Que é tua e não minha, afinal
Eu esqueço todos os teus sobrenomes
Eu nunca soube os teus nomes oficiais
Como a blusa que é minha e não tua
Amanheço amassado e sem dramas
Arreganho as vontades mais fundas
Antecipo o teu gozo em meus pêlos
E desaprendo para sempre
As bobagens que chamam de alma

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

instante

é preciso, capitão, abandonar as costelas
para poder parir asas sob as nossas axilas

mas somente as flutuantes, segundo Olivia,
dona de constelações

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Canção

A saudade é maior do que eu supunha
Minha pele lembra a cor de tuas unhas

frase

O desepero é o primo louco da esperança

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Status

O náfrago precisa de esperança
se ele gosta do status
de sobrevivente.
Pois se já se acostumou com o vazio
passa a ser somente um
residente do caos.
Só mais um
hóspede do abandono.
E conserva aquele gosto amargo
dos seres subordinados.

domingo, 31 de outubro de 2010

Poema para o azul do céu notuno

Nada meu corpo a língua os ossos meus olhos possuem
são fantasmas sem velas sem ter quem os vele
são folhas nas praças nas praias sem plantas
são ventos e levam as folhas e as flores do tempo que sou
são pontas e galos e cristas de restos de cavalo sobre as ruas
são em mim as paixões e o sexo molhado das musas
são bandeiras sem mastros de nações extintas

escuta, é azul a noite em que o amor me pinta

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

em construção

vamos tomar juízo, meu bem, sem açúcar e sem sal
dar um jeito nessa vida, tão sem graça tão sem jeito

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Despeito

Vejo em mim a inveja de você
a inveja de suas descrenças
de suas tantas desesperanças
de sua maneira de não passar
nada na peneira
do seu passo sem desmaio
colocando tudo no mesmo balaio
sua pálida raiva de tudo

Tento até disfarçar
invento disfarces
vou ao bar
solto o canário para uma volta
na minha gaiola de aprisionar
subo a tela do filme de medo
ligo a serra-elétrica
invento regras mesquinhas
trituro o crânio da mocinha
viro o vulto do vilão
meto um chute no meio
da porta do salão
sou o bandido sem bandeide
o sem noção

Mas não consigo esconder
uma ponta sobressai
da aba do disfarce
da ponta da viagem
do ponto inicial
escorre uma baba fina
desbotada purpurina
bote de cobra ao contrário
minha rima de otário
tudo denuncia

Eu queria não sentir
que bom seria

tendo a tua sem-gracisse
como guia.

Não fale de amor e ódio

Não fale de amor e ódio às quartas-feiras
no horário em que o sol é tangerina
e os rios da cidade mudam de sentido
e as cantoras descansam as canções.

Lembre de esticar a língua, devagar,
e deguste o resto de manhã.
Resgate o presente de alguém
no limite da saudade.
Se tiver vontade, dance.
Se não tiver, cante.

Nem que seja em silêncio.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

contraculturacontraculturacontra

mercado,
um recado:

abre daqui

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

homo

poesia é coisa de viado
enviado
transviado
sobre as vias do mundo
armado
desmunhecando o verso
diversificado
comendo dançando e comprando
fiado

fim de caso, um romance

A pele perdeu o tato, a casa perdeu o teto
Fui em busca do meu corpo mas não coube no concreto
Fui em busca do desejo mas não tava no contrato
Fui em busca de tua boca mas perdeu-se sem conquista
A rosa perdeu o cheiro, o gozo, perdeu de vista

recado

caro barato,
cansei de sobriedade

na rua

ñ posso parar de pensar em vc
brevemente abreviado
p/ não esquecer

poema

tanto a vida me destrincha
quanto a vida me destranca
quase tudo me faz sina
mesmo o que flor bela espanca

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Cantada

...relaxe ao meu lado,
delírio de luxo,
desleixo de vida
excelente...
... e vamos ouvir um saxofone,
xerox de sonho,
sexualmente...

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

d

não desfaça o d feito
do teu jeito de ajeitar o mundo
apesar do peso tão fundo
na parte mais pobre do peito

não desfaça o d feito
das linhas de tuas palmas
do leite morno da alma
do tempo nunca refeito

não desfaça o d feito
de tua forma fôrma torta
tua dança duna doca
do teu barco rio sem leito

não desfaça o d feito
do teu canto d cantado
não desfaça o que é deixado
d canto d lado

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Algo sobre o silêncio

Alguém me perguntou porque um dramaturgo e escritor como eu, tão apaixonado pela palavra, trabalha tanto com silêncios enormes nas peças de teatro. Eu respondi: "É que pra mim o silêncio é a sofisticação da palavra". Acho mesmo que as pessoas deveriam aprender a ficar mais quietas, a falar menos. A prestar mais atenção e respirar profundamente. A vida é feita de grandes silêncios. A palavra costuma se intrometer. Então quando ela vier, que seja certeira” - Mário Bortolotto

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

mandamento

euforia
é faísca
mas
ela
traz
a
n
t
i
p
a
t
i
a

desmorona se for quase todo dia

poema

Tenho fome
e a fome que tenho é de não ter
nome
para ter fome em paz

Livre de impostos da felicidade que sacia

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

bobagens

Não insista
nessa de equilíbrio,
não engulo esse eqüino atrevido.

Sou mais os pombos
tontos na faixa de pedestre

que não sabem que não tem
a faixa dos asestres...

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Na praia

tinha essa visão
em desbaratada vertigem
que da beira transbordava
em lã
de raios rentes ao céu, imã
meu olhos
e o sol
............................a se pôr

e eu era
aquele que via
e vendo o mar não sabia
o que o mar não seria
e o que era o mar

dos ponteiros da areia
vinha a dúvida e o vento
feito feto desfeito
e desatento:

o que era apenas mar
e o que era movimento ?

molhei meu olhar alheio
ao que não fosse o pensamento
mas em um pressentimento
ancorei meu pé-cimento:

o que meu remo puder
é mar
o que meu barco não vê
é fé
pois então se não é mar,
maré

Trôpego

Deixe a chave sob a sombra da porta

que eu voltarei bem tarde em pleno sol

Sem nome completo, sem adjetivos,

sem carro, sem cara, sem caráter


Esquecido das palavras mágicas

Embebido de frases sem lógica

Agressivo com meus adevisos

Meus políticos sorrisos no peito


Minhas cédulas de cem nos sonhos

Paraísos portáteis no cartão

Descerei as ruas de mãos dadas

Aos amigos de tão quente coração


Descerei com garrafas não pagas

Terei asas azuis emprestadas

Vou cantar um tango de Ravel

Pois sou eu o cantor da estrada


Terei cargos, disseram pra mim

Não pedirei mais nada a ninguém

É domingo e já não tenho culpas

É domingo mas eu vou voltar


Tenho casa e portas trancadas

Tenho casa e muros e grades


Me ajude a pular, me ajude a pular


Não tenho as chaves

anotação

desconfio dos distantes
dos discretos

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Agora já posso voltar

Coleciono gestos não feitos
e colagens de sorrisos alheios

Às vezes demoro a acumular

É preciso um bom número
para escrever poemas

terça-feira, 6 de julho de 2010

sem título

desejo-te todos os cães sem dono sob as sombras do viaduto
enquanto tento melhorar a posição do feichecler nesse domingo
sobre os tapetes de suor dos corpos de cinco virgens felizes
e o meu amor mandou buscar um cobertor pra mim

segunda-feira, 5 de julho de 2010

poema de domingo

teu olhar me intriga, Naiana

parece um gato molhado

a última chama

os primeiros patins

a poeira no armário

o vestido que ninguém usou

o abraçou que ninguém ousou

não, eu não falo de tristeza

apenas da vontade de comprar um trampolim

para sair do chão

algo que sacuda o porão

e tire os brinquedos da caixa

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Conversa com Arnaldo Baptista e Lucinha, sua esposa

De: Abilio Dantas [mailto:abilio_dantas@hotmail.com] Enviada em: quinta-feira, 24 de junho de 2010 17:25Para: arnowdo@terra.com.brAssunto: Ao mestre

Arnaldo,Acabo de assistir ao filme "Loki" e estou muito emocionado...Obrigado por estar vivo e sempre criando.Ah, adoro o "Let it bed".Quando vem o próximo?Grande abraço.


De:Lucinha & Arnaldo (arnowdo@terra.com.br) Enviada:
quinta-feira, 24 de junho de 2010 23:54:40
Para: 'Abilio Dantas' (abilio_dantas@hotmail.com)

Aguarde... está no fôrno...

bjs...

Lu Ar
www.arnaldobaptista.com.br

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Por nada

Não é por nada meu sorriso cínico
Meu bom dia cítrico
Minha bondade plástica
Minha alegria um tanto asmática

Você notou meu otimismo místico?
Meu sofrimento artístico?
A minha raiva kármica?
Contradição tão trágica?

Não é por nada.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Treinando o portunhol selvagem

I

Estamos em Cuzco, Peru. Ainda nao sei usar bem o teclado dos peruanos, por isso este nao sem til. O que mais me chama a atençao neste momento é a tecla do ñ, para palavras como mañana, conpreendes? Muito interessante. É difícil para mim mesmo entender como chegamos aqui.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

verso livre livre

vou te guardar no fundo dos olhos dos outros

para não fugir da vida

caso eu não puder te pôr na tatuagem

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Sessão Obsessões- A paixão do homem 2

Não é bem uma teoria, queridos interlocutores. É apenas uma intuição.
É simplificar demais o homem apaixonado pensar que seus motivos resumem-se aos impulsos filhos do feromônio, aos hormônios que podem ser despertados apenas por combinações involuntárias de momentos físicos deterministas, fascistas e sem imaginação, se é que me faço entender.
Existe mais de espírito que água no suor.
A paixão é sina. Como os hipocondríacos, os superdotados, os médiuns e os assassinos, os apaixonados são uma espécie de falha na fôrma do bom comportamento geral.
(Os loucos são espiões do bom senso, não são do mesmo time, fica pra próxima.)
Não é preciso, portanto, encontrar um ser perfeito para apaixonar-se.
Os apaixonados têm poucas escolhas durante a vida. Eles são quase funcionários públicos da emoção coletiva, assim como os poetas dão vazão as sub-versões mais íntimas de um povo. Logo, a cada seis meses é preciso bater um novo ponto. Mesmo que ninguém, além do próprio apaixonado, saiba disso.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Sessão Obssessões- A paixão do homem

I

O cineasta Domingos Oliveira costuma dizer que a única forma segura que existe de conquistar uma mulher é se apaixonando por ela. Concordo totalmente com ele. É difícil resistir aos olhos de um homem apaixonado. Em 2006, ou 2005, escrevi um poema que gosto muito por sua sinceridade. O título é exatamente esse: O homem apaixonado. Esse personagem me fascina, talvez por uma certa tendência minha ao narcisismo. Tenho o hábito de me apaixonar, no mínimo, a cada seis meses. É uma dieta rígida e balanceada. E extremamente espontânea. A biologia explica que o macho de cada espécie necessita espalhar seu esperma o máximo que puder pelo maior número de fêmeas possível. Não nego esta possibilidade. Mas, como sempre preferi a literatura, as velhas máquinas de escrever, os cinzeiros cheios de bituca, as garrafas vazias de cachaça e cerveja, aos higiênicos jalecos embutidos nos estudos dos cientistas de Harvard, trago comigo uma hipótese um tanto quanto mais bonita.

(CONTINUA)

terça-feira, 11 de maio de 2010

Como eu tô?

Bem,
eu continuo vivo.

Na medida do impossível,
sexualmente ativo.

Preservado sem preservativo.
Acima dos versos,
não subversivo.

Feliz quando sobe a maré.

Presenciando mortes-
morreu minha tia,
a mais nova das filhas
das tias-avós-
cheirando cangotes.
Desafiando a sorte.
Triste nas noites com chuva
e tão só.

Tento me aproximar da vida
aos poucos.

Aos passos pequenos,
estico meus membros.

Aprumo meus rumos às margens-
O que não vimos da paisagem-

aguço o meu ego, euforia.

Aos herdeiros da vida,
deixo minha alegria.

Me inacabo todo dia.

sábado, 17 de abril de 2010

eu quero escrever
agora
para todas as pessoas
que já me leram aqui
para todas aspessoasquenuncameleramaqui
para todos queles
que ainda
eu sei
meu deus
eu sei
ainda vão me ler
por acaso
num dia de chuva
num dia de portas fechadas
e olhos cerrados das amadas
num dia de mensagens
felicíssimas
de celular
num dia de massagens
sensualíssimas
nas costas cansadas
de encosto de banco
de ônibus
num dia de não ter
que ter medo
de ter uma arma de fogo
apontado nas ventas
pelo simples fato dos ventos
vomitarem
por acaso
mais moedas que piadas
em meu corpo
num dia de ternuras tantas
que as danças de todos os povos
e suas tranças
não dão conta de tanta andança
na alma

sexta-feira, 16 de abril de 2010

cinema

cheiro de gelol
a nuca tesa em minhas mãos
a noite é quente
já choveu
um guarda-chuva sabe
o chão da sala sabe
o cabo pinga
o dia finge
o corpo deita
já não quero
amigos riem
sobre a noite
a noite chama
sobre a noite
a cama pede
o corpo clama
o nosso jantar

sexta-feira
sesta em torno
mãe que chama
dor na costa
cheiro de gelol
nuca tesa em minhas mãos

Ciclo

E os paraenses querendo ser paulistas
com suas jaquetas,
8h30, sol a pino,
na almirante barroso, domingo,
com sua pele encardida metida
a branco encardido,
brasão do corintias,
fone de ouvido
e sotaque italiano.

E os paulistas doidos pra serem
norte-americanos,
com seus silêncios fedendo
a grana
e seus abraços com cheiro
de grana
e o seu drama e o seu caos
por não ser um país
movido ao amor e à beleza
da grana.

E os estadounidenses,
ou norte-americanos,
ou filhos do mickey,
perdidos com o próprio peso,
fudidos no próprio dólar,
cansados de tanta merda
e de pensar que o mundo pensa
que eles querem
que pensem
que são
os donos do mundo...

E os paraenses querendo ser paulistas

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Conversa

A política ama,
ela me disse
enquanto coçava o nariz.
Eu disse: eu sei.
E ela disse: não parece.
E enquanto disse
os seus olhos brilharam
e saltaram das órbitas
e pularam sorrindo
sobre as lentes de contato.

-Eu concordo,
embora talvez eu não veja
exatamente
como tu.
Mas também,
veja bem,
eu não tenho
esta cor
este riso
e esta brisa nos olhos.

E ela disse: eu sei...
e eu não escutei
pois seus olhos dançavam demais
e eu não pude escutar mais nada.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Ninguém viu


Numa terra de migalhas
onde as ruas são de plumas
há um homem que há muito
foi embora.
Sua cama, arrumada,
tem os moldes de seu corpo
e a sombra da sandália
marca seu canto no quarto.
A cozinha brilha e cheira
a produtos de limpeza.
A salada de alface enfeita
a velha geladeira.
O homem não come vegetais.

A tinta da parede da sala
é branca.
A borda da velha janela
é branca.
A tampa da voz de quem fica
é branca.
E o relógio é quem reza o evangelho.

No dia em que partiu
dobrou as sete camisas
e esticou o olhar para o chão.
Pôs duas notas
embaixo do vaso de plástico,
regou o pote dos cães.

Hoje não há ele
na casa onde o homem mora.
E apenas as plumas
e migalhas
e, quem sabe, as cigarras
ligam para isso.

Ontem fez três anos

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Regra Geral

Assim como todas as linhas são tênues
E todos os tetos são tensos
Todas as tardes não tardam
E todos os peitos são pensos

Como todas as mãos são manhosas
E todas as manhas são fanhas
Feito as tintas; tinhosas
E cheias de pira as piranhas:

A verdade é vaidosa
Tudo o que baba é rebanho
Toda gastura é gasosa
Todo temor é tamanho.

quinta-feira, 4 de março de 2010

assim

como um gato aposentado
que não tivesse mais força nem de ter preguiça
e nem quisesse bricar de velhice tingindo de branco os bigodes.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Leiam Márcia Denser

Muito bom:

http://congressoemfoco.ig.com.br/noticia.asp?cod_canal=14&cod_publicacao=31633&filha=1

quando falam em vitória

quando falam em vitória
meu corpo encolhe os desejos
o beijo engole os sinais
vermelhos
e a vida segue em mim
mandando poucos abraços
quase recito a palavra

fracasso

quando falam esperança
o corpo tinge cadeados
os olhos trincam os sinais
esverdeados
e a vida segue nos rins
denunciando se fujo
só executa o trabalho

sujo

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Notas Intrusas

* fazer sexo é preciso, viver é impreciso

* de espontâneo o homem só tem o soluço

* morrer deve ser morno e com cheiro de café

* sou devoto do suor humano

* saudade é uma boca cheia de saliva e não dá pra descer e não dá pra engolir

* ''Só sei que nada sei e é só", Flaviúde.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

ao amigo

desculpe, vida
tua língua não hablo

só understendo juan pablo

insônia

sonhos de seda
a casa é morta
eu clamo por ela

hai kai

cinza amanhece
novo dia tinge
nova chuva vem

no shopping

vi de longe e agora
é uma possível amante

será que rola
na escada rolante?

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

poema

...................
.........
.......................
..............

ah

deixa pra lá

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Separação

Ele- Será que tá fazendo frio em Santa Catarina?

Ela- Não sei.

Ele- Tô colocando na tua mala os meus casacos. Naõ servem pra nada aqui em Belém e eu nem sei...

Ela- Não faz isso não. Se tiver frio, eu compro outros lá.

Ele- Tem certeza? Mas e se no aeroporto já tiver frio? E se no avião fizer um frio desgraçado?

Ela- Eu não quero levar os teus casacos.

Ele- Eu quero que tu leves os meus casacos

Ela- Eu não posso levar os teu casacos.

Ele- (silêncio)

Ela- Que horas são?

Ele- Tem pouca coisa na tua mala. Porquê não ficas mais uns dias? A gente pode comprar coisas novas pra tu levares. Cd´s, livros... Aí não vai doer tanto quando fores reler os livros que te dei.

Ela- Eu preciso ir. E na casa da minha mãe em Santa Catarina...

Ele- Vai ser duro, viu? Abrir aqueles livros e ler as minhas dedicatórias.

Ela- Acho que não vai ser tão ruim assim.

Ele- Talvez.

Ela- Ontem eu pensei em ficar.

Ele- Sério? Mesmo depois de tudo que a gente disse e tal...?

Ela- Foi. Mesmo depois de tudo que a gente disse. Acho que me deu medo, sabe?

Ele- Sei. Eu também tô com medo.

Ela- Que horas são?

Ele- Posso abrir uma garrafa de vinho que sobrou de ontem? Acho que dá tempo.

Ela- É, acho que sim.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

pequeno retrato

quase morto
o morto
sorriu
por entre as mãos
do próprio corpo

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Frase de efeito

apaixonar-se é estar imundo de coisa viva

Enigma

as mulheres não passam de pistas

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O pulo

de cima
ele pensou
que se pulasse
era um pulo só
e era um só mergulho
e tudo de inferno que havia
nos dias escrotos de agora
nada mais seria que a vida que deixou
nada mais que o presente não entregue para alguém
nada mais que a fome vermelha na língua de um cão pálido e morto há três anos atrás

seria um pulo só, ele pensou, e acendeu o último cigarro do fundo do bolso
um pulo que abriria um nova garrafa de alguma coisa banhada de sonho
um pulo que seria mais ainda que os gritos e as cores coloridas de um orgasmo múltiplo
ah, um pulo como um solo de guitarra desesperadamente barulhento e belo
o resultado espontâneo de uma leve e rápida flexão dos dois joelhos
um ponto final de uma vida tendo o céu e as nuvens como cúmplices fiéis

bastaria que pulasse para que largasse o cabresto da melancolia
para que os demônio descessem da vigília e viessem também jogar baralho
para que os demônios mudassem de lado e se declarassem anjos ateus
bastaria um simples pulo para que os amores queimados virassem adubo de jardim japonês
somente um pulo para que todas as canções sem vida fossem puro e completo Sérgio Sampaio
um pulo simples para que as mulheres soubessem que, apesar de tudo, nós nunca deixaremos de amá-las
para que as tardes de taras perfeitas se proclamassem o maior e mais rico tesouro da humanidade
para que os suores de dois corpos juntos fossem muito mais ouvidos que os chamados de concursos públicos
e mais propalados que a falsa e ingênua idéia de que fomos feitos para alimentar nossas contas bancárias e estatísticas de felicidade
bastaria um pulo para que mundo deixasse de bancar o burro e decidisse, finalmente, gozar dentro.

de cima
ele pensou
que um pulo o deixaria mais vivo
sem dúvida mais amigo e mais solto
muito mais forte e bonito e muito menos insosso
talves até pudesse sair pra sempre do fundo daquele poço

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

o fim de uma viagem

dizem que insolação é uma coisa ruim
dizem que dói como se a pele queimasse por dentro
dizem que mata o prazer que o tato é capaz de trazer
dizem que é a vingança do rosto sobre as cores do sol

eu não sei

mas tinha um menino na volta da viagem
um menino deitado no banco do barco
um menino vermelho que urrava no choro
que sabe e pode dizer melhor do que eu

ele era a própria dor

a irmã tinha pena e preferia olhar o mar
a mãe tinha pena e penteava os cabelos
eu tinha pena e buscava ver o vento
o mar tinha pena e apenas o levava