terça-feira, 6 de abril de 2010

Ninguém viu


Numa terra de migalhas
onde as ruas são de plumas
há um homem que há muito
foi embora.
Sua cama, arrumada,
tem os moldes de seu corpo
e a sombra da sandália
marca seu canto no quarto.
A cozinha brilha e cheira
a produtos de limpeza.
A salada de alface enfeita
a velha geladeira.
O homem não come vegetais.

A tinta da parede da sala
é branca.
A borda da velha janela
é branca.
A tampa da voz de quem fica
é branca.
E o relógio é quem reza o evangelho.

No dia em que partiu
dobrou as sete camisas
e esticou o olhar para o chão.
Pôs duas notas
embaixo do vaso de plástico,
regou o pote dos cães.

Hoje não há ele
na casa onde o homem mora.
E apenas as plumas
e migalhas
e, quem sabe, as cigarras
ligam para isso.

Ontem fez três anos

Um comentário:

Catatau Azul disse...

Bonito p kraleo cigano, me lembrou "cem anos de solidão" ñ sei pq.
Ei kra tenho umas idéias p falar contigo, umas coisas qeu andei pensando.
Um grande Abraço!