quarta-feira, 22 de julho de 2009

Recusa

Não sou de roda
(de samba,
de bamba,
de coisa boa),
não tô na moda.

Tá foda.

De vida
meia boca,
tô fora.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Domésticaos

Nada de feitos
homéricos,
poéticos.

Meus caos
é pacato
e doméstico.

Varais

Casas molhadas
descascando ao sol.
Roupas e só.

Um pouquinho de Paulo Leminski

"Tudo o que eu faço
alguém em mim que eu desprezo
sempre acha o máximo.

Mal rabisco,
não dá mais para mudar nada.
Já é um clássico."

[do livro Distraídos Venceremos]

terça-feira, 14 de julho de 2009

Lembranças

Não tinha mais de treze anos aquela menina de cabelos dourados, espinhas precoces, e um jeito safado de morder o lábio inferior enquanto assistia a aula. Estávamos na sétima série, eu acho. Da minha parte, me bastariam as coxas nuas sem a calça jeans preta fascista, autoritária, careta. Aquelas coxas brancas levantando da carteira após o sinal sonoro soar. Todos iam pro recreio, todos levantavam num pulo. Eu só desgrudava os olhos e voltava a pensar quando ela cruzava a porta da sala e a bunda coberta pelo jeans preto ia viver longe de mim. Dez minutos, pelo menos, até que eu levantasse...
Lembro a primeira coisa nela que me chamou a atenção: o cigarro imaginário que fumava. Nunca esquecerei da pequena borracha na ponta do lápis roçando em sua língua, devagar...

sábado, 11 de julho de 2009

Mais do livro

Esse trecho, em particular, me causou uma identificação enorme. É ótimo quando a literatura consegue isso.

"O amor entre ele e Tereza era belo mas doloroso: era preciso sempre esconder alguma coisa, dissimular, fingir, retificar o que dizia, levantar-lhe o moral, consolá-la, provar continuamente que a amava, suportar as reclamações de seus ciúmes, de seu sofrimento, de seus sonhos, sentir-se culpado, justificar-se e desculpar-se. Agora, o esforço tinha desaparecido, e só ficara a beleza."

p.28-29, "A Insustentável Leveza do Ser"

sexta-feira, 10 de julho de 2009

O livro que estou lendo

"Torturava-se com recriminações, mas terminou por se convencer de que, no fundo, era normal que não soubesse o que queria: nunca se pode saber aquilo que se deve querer, pois só se tem uma vida, e não se pode compará-la com as vidas anteriores nem corrigí-la na vidas posteriores.
(...) Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado"

"A Insustentável Leveza do Ser", de Milan Kundera.

Separações

"A separação pode ser o ato de absoluta e real união, a ligação para a eternidade de dois seres que um dia se amaram demasiado para poderem amar-se de outra maneira, pequena e mansa, quase vegetal"

Inês Pedrosa

terça-feira, 7 de julho de 2009

A arte


“A arte só serve para alguma coisa se é irreverente, atormentada, cheia de pesadelos e desespero. Só uma arte irritada, indecente, violenta, grosseira, pode nos mostrar a outra face do mundo, a que nunca vemos ou nunca queremos ver, para evitar incômodos à nossa conciência.”

(Pedro Juan Gutierrez)

Maria Joana

Maria, eu nem queria te encontar
Nem fazia questão de te conhecer
Sempre ouvi muitas coisas ruins sobre ti,
Mulher mal falada.

Mamãe dizia que morria de medo
Papai de fato nunca falou nada
Os meus irmãos guardavam segredo
No máximo contavam piada

Os sintomas aprendi muito cedo
Olhos vermelhos, voz um pouco arrastada
Confesso sempre senti desejo
Mesmo nunca descendo a escada

Maria Joana, Maria Joana
Já já eu vou te buscar
Maria Joana, Joana Maria
Quero aprender a tragar

Maria Joana, Maria Joana
O mundo não é tão mal
Maria Joana, Joana Maria
Quem sabe a vida é igual

O peito como um corcel delirante
Galopa sem rédea ou corrente
Coração alado feito um amante
Domina os passos e a mente

Mamãe teria gostado muito
Papai eu acho que conheceu
Os meus irmãos mudaram de assunto
Percebem; algo aconteceu

Maria, hoje eu te respeito
Nunca mais te difamarei
Gostei do teu jeito em meu dedo
Amei tudo o que imaginei

Maria Joana, Maria Joana
O mundo não é tão mal
Maria Joana, Joana Maria
Quem sabe a vida é igual

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Isso é que é Lei

“Decreta-se que nada será obrigado nem proibido, tudo será permitido, inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela. Só uma coisa fica proibida: amar sem amor”

Thiago de Mello