domingo, 31 de outubro de 2010

Poema para o azul do céu notuno

Nada meu corpo a língua os ossos meus olhos possuem
são fantasmas sem velas sem ter quem os vele
são folhas nas praças nas praias sem plantas
são ventos e levam as folhas e as flores do tempo que sou
são pontas e galos e cristas de restos de cavalo sobre as ruas
são em mim as paixões e o sexo molhado das musas
são bandeiras sem mastros de nações extintas

escuta, é azul a noite em que o amor me pinta

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

em construção

vamos tomar juízo, meu bem, sem açúcar e sem sal
dar um jeito nessa vida, tão sem graça tão sem jeito

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Despeito

Vejo em mim a inveja de você
a inveja de suas descrenças
de suas tantas desesperanças
de sua maneira de não passar
nada na peneira
do seu passo sem desmaio
colocando tudo no mesmo balaio
sua pálida raiva de tudo

Tento até disfarçar
invento disfarces
vou ao bar
solto o canário para uma volta
na minha gaiola de aprisionar
subo a tela do filme de medo
ligo a serra-elétrica
invento regras mesquinhas
trituro o crânio da mocinha
viro o vulto do vilão
meto um chute no meio
da porta do salão
sou o bandido sem bandeide
o sem noção

Mas não consigo esconder
uma ponta sobressai
da aba do disfarce
da ponta da viagem
do ponto inicial
escorre uma baba fina
desbotada purpurina
bote de cobra ao contrário
minha rima de otário
tudo denuncia

Eu queria não sentir
que bom seria

tendo a tua sem-gracisse
como guia.

Não fale de amor e ódio

Não fale de amor e ódio às quartas-feiras
no horário em que o sol é tangerina
e os rios da cidade mudam de sentido
e as cantoras descansam as canções.

Lembre de esticar a língua, devagar,
e deguste o resto de manhã.
Resgate o presente de alguém
no limite da saudade.
Se tiver vontade, dance.
Se não tiver, cante.

Nem que seja em silêncio.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

contraculturacontraculturacontra

mercado,
um recado:

abre daqui

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

homo

poesia é coisa de viado
enviado
transviado
sobre as vias do mundo
armado
desmunhecando o verso
diversificado
comendo dançando e comprando
fiado

fim de caso, um romance

A pele perdeu o tato, a casa perdeu o teto
Fui em busca do meu corpo mas não coube no concreto
Fui em busca do desejo mas não tava no contrato
Fui em busca de tua boca mas perdeu-se sem conquista
A rosa perdeu o cheiro, o gozo, perdeu de vista

recado

caro barato,
cansei de sobriedade

na rua

ñ posso parar de pensar em vc
brevemente abreviado
p/ não esquecer

poema

tanto a vida me destrincha
quanto a vida me destranca
quase tudo me faz sina
mesmo o que flor bela espanca

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Cantada

...relaxe ao meu lado,
delírio de luxo,
desleixo de vida
excelente...
... e vamos ouvir um saxofone,
xerox de sonho,
sexualmente...

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

d

não desfaça o d feito
do teu jeito de ajeitar o mundo
apesar do peso tão fundo
na parte mais pobre do peito

não desfaça o d feito
das linhas de tuas palmas
do leite morno da alma
do tempo nunca refeito

não desfaça o d feito
de tua forma fôrma torta
tua dança duna doca
do teu barco rio sem leito

não desfaça o d feito
do teu canto d cantado
não desfaça o que é deixado
d canto d lado

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Algo sobre o silêncio

Alguém me perguntou porque um dramaturgo e escritor como eu, tão apaixonado pela palavra, trabalha tanto com silêncios enormes nas peças de teatro. Eu respondi: "É que pra mim o silêncio é a sofisticação da palavra". Acho mesmo que as pessoas deveriam aprender a ficar mais quietas, a falar menos. A prestar mais atenção e respirar profundamente. A vida é feita de grandes silêncios. A palavra costuma se intrometer. Então quando ela vier, que seja certeira” - Mário Bortolotto

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

mandamento

euforia
é faísca
mas
ela
traz
a
n
t
i
p
a
t
i
a

desmorona se for quase todo dia

poema

Tenho fome
e a fome que tenho é de não ter
nome
para ter fome em paz

Livre de impostos da felicidade que sacia