quinta-feira, 30 de abril de 2009

Ecumênico

deus não é um qualquer
pode até ser mulher
diz-que deu e não deu
deus às vezes não quer

deus não é delator
e não quer minha dor
mas é deus e doer
só lhe dá mais valor

vive aqui e se vai
e é visto sem zoom
e não cega nem mata
o deus de qualquer um

terça-feira, 28 de abril de 2009

Esses dias

Quando tudo der errado

Ponha os óculos escuros

Se não livram dos apuros

Pelo menos dão um charme

Leminskiano

De tanto não ser tão estranho
Entranhei em mim o manto
Maculado de espanto
Que eu quis sempre usar

Sob os erros do sovaco
E o horário dos mamilos
Escondi os meus perigos
Minhas taras de viver

Hoje já não faz sentido
Condenar minha loucura
À vergonha da tortura
Essa coisa de esconder

Juro, eu vou quebrar telhados
E desafiar os gatos
Ser um bêbado alado
Ai de quem não me seguir

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Enorme Citação

Bem, meus poucos, porém fiéis, leitores deste espaço virtual. Hoje vou ceder a palavra para um dos maiores artistas brasileiros vivos, o ator e diretor de cinema e teatro, Domingos Oliveira. Se não conhecem a sua obra, por favor, não percam tempo. Seu blog é www.dodomingosoliveira.blogspot.com .

Vai que é tua Domingos.

CARTA ABERTA AOS ARTISTAS DE VERDADE OU OS OPERÁRIOS DA CATEDRAL

Se você tem certeza que é um artista de verdade, que sua razão de ser é a Arte, que sem a Arte você morreria, leia isso: É um chamado, uma convocação. Pouca gente sabe o que é a Arte. E, no poder, quase ninguém. Por isso acontecem absurdos como essa badaladíssima discussão. Juca Ferreira versus Lei Rouanet. E a coisa da OS (Organizações Sociais). São movimentos atuais que em resumo consistem em entregar o dinheiro disponível para a Cultura, através de várias Leis e processos, para o Governo. Aumentar o Poder do Governo, confiando em seus critérios para julgar. De que modo deve ser usado o dinheiro público (isenção de impostos ou outras coisas). É claro que os destinos do cinema e teatro brasileiros não devem continuar sendo regidos por diretores de departamentos de marketing (embora eles tenham se comportado, até hoje, razoavelmente bem). Como este ponto é indubitável, J Ferreira ganha sempre as discussões, posto que está com a razão. O dinheiro público deve ter a tutela do governo, para que possa ser aplicado no bem comum. E nesse tipo de teoria, perdemo-nos todos em reuniões infindavelmente monótonas e vazias de conteúdo. Claro que o dinheiro da Arte e da Cultura deve ser comandado pelo Governo. A propósito, deve ser dito que já é. Posto que os maiores patrocinadores são estatais (Petrobrás e outras). Não é importante saber se o dinheiro fica com o Juca Ferreira ou com a Petrobrás. O importante é saber o que eles vão fazer com isso. E eis que chega a pergunta que ninguém faz, por falta de coragem:
- Que tipo de filme ou peça o ministro JF acha que deve ser produzido? Quem vai levar o dinheiro? É isso que interessa. O ministro imediatamente argumentará que essa decisão não é dele, e sim das comissões que constituirá. Será uma inverdade quando ele disser isso. Perigosa inverdade. As comissões são controladas por quem as nomeia. Sendo sempre altamente manipuláveis. De modo que é preciso saber qual é o gosto pessoal do Juca. Que concepção ele tem da Arte e da Cultura. Observemos que começa aqui a fatal confusão. A Arte faz parte da Cultura, mas não é a Cultura. É maior e mais importante que a Cultura, ou pelo menos pertence a outro departamento. Cultura é Educação. É uma coisa que se preocupa, que aprende, que bebe na fonte do passado. A Arte é a locomotiva da Cultura. É o arauto que anuncia o futuro. A Arte diz respeito àquilo que não existia ainda, e está sendo criado. A Arte defende a humanidade.
Quando escrevo essas palavras estranhas, pressinto a incompreensão. São transcendentes, confesso. A Arte é transcendente. É a mais forte arma de comunicação, recurso didático para tornar os homens civilizados. A Arte ensina aos homens seus maiores valores. O amor, a dignidade, a honra, o patriotismo, a cidadania, a solidariedade. Por causa deste nobre alcance, a Arte jamais é citada em debates públicos. A massa burguesa da maioria encarregou-se nos últimos séculos a desmoralizar a palavra Arte. Segundo estes tolos, a Arte é uma coisa desnecessária, fútil, em geral exercida por gente que não gosta de trabalhar. Quando, na verdade, a Arte é o único trabalho verdadeiro. Se você não entende essas palavras ou se elas irritam, pare de ler esse artigo já. Ele não é pra você. Você pode ser um bom sujeito e até um pensador lúcido, mas não é um artista.
Juca Ferreira é um homem forte. De um carisma notável, eloqüência, e, por que não dizê-lo, simpatia irresistível. É preciso saber de um homem desses o que ele entende por Arte.
Repito. Que filmes e peças deveriam ser feitos com o dinheiro público, segundo a opinião pessoal dele?
Para exigir a resposta dessa pergunta, convoco meus pares, os artistas, a repercutir esse artigo. Faz anos que preconizo a existência de um Ministério da Arte. Todos tem medo de mim e preferem me achar ridículo, pensar que estou brincando. Não estou. Penso que a Arte é o que sustenta a Cultura, o que a leva para frente. Não existiria o cinema e o teatro brasileiro sem Glauber Rocha e Nelson Rodrigues. É o artista que tem que ser protegido pelos governos.
Não pensem que puxo a sardinha. Os bons artistas, como eu e muitos, sobreviverão de qualquer jeito. Com Ministério ou sem, não importa as reuniões de Juca Ferreira.
É a Arte que vai abrir os mercados internacionais. É a Arte que nos dará o respeito do público. A Arte é o retrato do país. Um país pobre como o nosso não pode gastar dinheiro público com filmes e peças ruins. Somente devem ser feitos peças e filmes bons! E quem vai decidir o que é bom ou ruim, pergunta o leigo incauto. Ele responde: Isto não pode ser posto em Lei, é subjetivo. Engano fatal. O único que pode julgar a arte é o artista. E não é difícil reconhecer um artista, a primeira vista. É aquele que ama realmente a humanidade e constrói uma obra sobre esse amor.
Atualmente, a palavra “diversidade” sacralizou-se. Quem duvidar disso, morre. Concordo com a diversidade. Mas ela está abaixo do critério da Arte.
Todas as comissões propostas são mistas: minoria dos artistas, maioria de burocratas ou técnicos interessados no assunto ou no prestígio. Isto está errado. Os verdadeiros artistas devem ter a maioria de qualquer comissão, porque somente eles entendem o que é a Arte. É pretensão de outros querer julgar a atividade artística.
Enfim, as palavras cansam.
Sei que somente serei entendido pelos artistas de verdade. Para eles que escrevo e peço que não me deixem sozinho e repercutam, a seu modo, esse meu artigo. Tenho certeza que vocês concordarão, sendo artistas verdadeiros.
Na prática, confesso que sou a favor do Juca e das OSs. Um homem deve lutar pela Lei correta. E depois lutar, mais agressivamente ainda, contra aqueles que aplicam mal a Lei. Essa é uma briga que vem depois. Apesar de que eu, artista, não tenho tempo pra isso. Minha obra me espera. Tenho pouco tempo. A eternidade seria pouco...
Somente a Arte salva, sem a Arte não há salvação.
“Oh, minha alma! Não aspira a vida imortal, porém esgota o campo do possível” (Píndaro)
Por favor, repercutam, companheiros.

Com todo respeito ao ministro, e até confiança,
Domingos Oliveira.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

a minha juventude vai durar/ quase toda a minha vida/ vai ser agonia até jorrar/ amor, gengibirra/ de toda conversa/ medida sem pressa/ e sem confessa/ nem confessionário me faz falar

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Amanhecer e ver o rio ali, vivo.

O Encontro Regional de Comunicação tem cheiro, tem peito, tem vida. Não é apenas uma reunião passageira de um monte de gente que não tem o que fazer. É um encontro. Um confronto pacífico de pessoas diferentes, nascidas em lugares e histórias diferentes, mas que estudam e discutem, e tem coisas a dizer, sobre os mesmo assuntos. Se refletir é essencial para tentar entender e intervir em qualquer problema ou assunto dessa vida, encontrar o outro e reconhecer-se nele é inevitável para o crescimento dessa reflexão.
Mangueira é o nome da cachaça que o menino da delegação do Piauí botou em minha mão. Tem um gosto amargo e forte, de coisa queimada. Alda é o nome da menina que canta Caetano Veloso como quem nina um bebê. E Imperatriz, no Maranhão, é longe, muito longe... Procuro fazer silêncio, achar uma posição confortável na roda, e somente escutar. É preciso contemplar essas pessoas que sorriem e bebem como eu. São alegres como o tempo de cinco dias, o tempo que dura esse encontro. Abrem o livro do Vinícius e sorriem de um poema que ninguém entendeu. E o maranhense, gargalhando, diz: "Ainda se dizia poeta".
Aprendi a fazer massagem na costa corretamente. Igoberto, piauiense, massoterapeuta, estudante de Comunicação, me deu umas dicas. A mão deve ser leve e firme, segura. Descobri o quanto faz bem para quem faz. Sotaque nordestino;"não enxague a mão não quando terminar de fazer. Deixe a água escorrer de suas mãos. Assim a energia de quem foi massageado fica em você." Fazem filas sob minhas mãos. E eu durmo cheio de energia.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Saí

Hoje eu tô indo morrer
em qualquer outro lugar.

Caso telefonarem:
"lhe roubaram o celular".

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Modinha

Ternuras trincam olhos,
tantas podem fazer mal.
Tento esquecer teu corpo,
tonto perco o teu olhar.
Como pode um peixe vivo
viver rijo sem nadar ?

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Mensagem

A tua pele nao me deixa dormir
e cada dia sem ti
eh um calor a mais em mim
Vulcao voraz que se faz,
em tua falta, imortal.
Vitima vil do teu ponto final

Coisas que morrem
se morre o teu beijo.
Um desrespeito ao desejo.

Enfim...

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Assoreamento

Lagrimas secam
Ainda que nunca, de repente,
Cessem de cair
E como na geografia das aulas
soterrem de terra e barro seco
o peito do besta aqui

Peito assoreado

Quem sabe um novo
tipo de solo e solidao
Parte orgulhosa
Poeira, resto
Que nao compreende o chao
E foge...

Vai embora
Feito lagrimas primeiras
que nao cessam de secar

Feito a mosca que dancou
sobre o rio
assoreado
e voou

E caiu, logo ali,
por culpa da preamar.