sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Acróstico

Tanto faz se é vida (ou minto),

War and love, A e Z...

Infalívelmente, eu sinto

Grandes coisas por você

noite

graças a deus eu não cansei
e lavantei
e bebi o que restou

pus os olhos no ombro
e beijei o pescoço
antes da noite
acabar

dos pêlos eu lembro o suor
e a paz que me veio depois

das vidas eu vi renascer
a dor que amor nenhum traz

só os raios da nova manhã
por trás dessa mesa do bar

nada que valha à pena cantar

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Breado

Fiquei entre o banho
e o caderno
e os poemas

no meio de três dilemas

enquanto pensava escrevi

e quase engasguei, eu não vi,
espuma nas vogais

enquanto pensava lavei-
me, vivi

e não morri mais

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Poema da Naiana

(Bem, pelo que eu saiba esse blog só tem dois leitores fixos: Helinho e Naiana. Resolvi, então, homenageá-los. Amo esse poema, portanto ele é a primeira parte da homenagem. Com vocês, minha querida poetisa maldita.)

XX

Eu odeio não querer
Antes tudo se queria em mim
Qualquer vaga esperança de novos sentidos
Sentimentos, cravado na pele
A paixão de cada um postos em mim.
Meus, integrados em mim

Já não quero
E não querer é a cicatriz
De tudo que quis, sem saber.
Não querer, é preocupação
Já quero, o que quis longe

Agora, adiante, não vou querer mas nada
Saber o que não quero, é próximo da estrada
De saber o que quero
E eu não quero

Naiana Cruz

Trecho do diário amarelo

08/08/08

Que fracasso. Fracassei. Este caderno amarelo era uma tentativa sincera de diário. Diário, no sentido real da palavra. Tudo bem, nem tanto convencional, mas que possuísse uma espécie de continuidade, plenitude, ou outro nome pomposo que o indentificasse como um artefato vivo de idéias. Algo que lhe desse alguma credibilidade, entende?
Queria, de verdade, que ele servisse como uma arma para guerras futuras ou mesmo guerras atuais, ainda que como uma granada reserva. Mas não. Me deixei levar por minha ausência de força. Indisciplina. E hoje nem posso dizer que registro sentimentos aqui. Não, não posso. Apenas criei um guarda-napo encadernado. Uma coletânea de lencinhos para a posteridade. Desprezível. Nada que valha à pena mostrar.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Poema raro (hahaha)

( Esse poema foi escrito logo após o desastre que abalou Belém no ano passado; o desastre de carro que matou seis pessoas na estrada de Salinas. A morte por carbonização de cinco meninas de classe média mexeu com a minha cabeça, além da minha emoção. E deu nisso aí. Espero um dia escrever algo sobre a família do outro carro.)

Sobre as meninas

Ninguém viu que entre os escombros
estavam intactos os cabelos.
Cada um com sua cor natural e tez aflita.
Cada fio ainda vivo e sem risco, a carne
viva. Sobre o cinza do nada aquele brilho.

Não de osso ou de cílios, o pó,
mal-vindo à estrada aquele dia,
era de fina farpa e ironia, salto
novo e alto, e agonia.
Nem rima em si cabia. O pó era
pó, e hipocrisia.
Naquele dia sem mentiras.

Se é destino que detonem
tudo quanto for destino.
Crueldade é quando até
o rubor das maquiagens
escancara o nosso sangue,
frouxo e morno,
e não cessa.

Aí nos vêm a memória
as nossas mortes, nossos botes
de sarna, salva-vidas:
lembra do lixeiro, os buracos
no peito, a maria e os irmãos
naquele assalto, quando o homem
do quinto caiu,
e por aí se vai...

Mas estas tinham tudo.
Tinham tudo.
Então já é demais.
A dor não cabe na pele.
Nem na pauta dos jornais.
Vai nos sonhos e nos bolsos.
Nas piadas e nos fatos.
E ocupa o seu lugar.

Em todos um pouco, um tanto.
Dói. Pois de todos vai um pouco,
mesmo suspiros
no minuto de intervalo.
Mesmo somente a certeza que
é isso mesmo, meu bem.
Vire a folha e passe bem.

Meninas ricas e bonitas.
Meninas, ricas e bonitas.
Nem tanto, mesmo sendo,
ricas e bonitas,
mas meninas.
Meninas.
Ricas e bonitas.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

tremor

eu tremo quando beijo
o meu amor
e rezo que não seja
só nervoso e ardor

mas sim um novo vírus demais:
devastador

e torço pra que vire epidemia

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Amor (bláááááá´)

I

Da primeira vez
primeiro eu quis
cantar, morar
num chafariz...
E ser o tipo
mais feliz
que se pudesse
encontrar.

Até criei
um novo jeito
de caminhar.
Passava a perna
antes de andar
sobre um cone
amarelo, muito
bem feito e belo,
e que não estava lá.
Subia o nariz, metido,
e abriu um sorriso,
desses do jeito que agente
só faz quando
está sozinho.
E ia.
Esquecendo até a rima
que fazia

II

Da segunda, já não era mais
calouro
nessas coisas que o mundo cria
pra gente viver.

Quase que não deixo nada
acontecer.
E perco
aquilo quera tudo
que não queria perder.

E nessa vez é que agora
ainda vivo.
Sem querer passar.
Curtindo o beijo no ombro,
que no fundo,
isso é.

Só um beijinho no ombro,
discreto.

Não é?

engano

a susy ligou atrás do vítor
mas por seu azar
quem atendeu fui eu
e também não existe
ninguém com esse nome
que more aqui

cara susy, se tu
me acordares de novo
atrás desse filho da puta
eu juro que digo
que sou ele

aí vais ver a merda,
viu vítor?

domingo, 1 de fevereiro de 2009

A Nova Construção - um novo shoppinng nasce. e daí?

Enquanto as atividades do Fórum Social Mundial se encerram, um novo shopping center é construído em Belém. Seu corpo não é apenas mais uma silhueta no céu da cidade, em meio ao calor e a fumaça da avenida onde os homens trabalham. No tempo de uma chuva o prédio cresceu. E os olhares de espanto já começam a diminuir. Os guindastes amarelos, antes vistos como gigantes intrusos na paisagem, dividem quase que harmoniosamente as atenções com os pedintes e arranha-céus. Antes estes mesmos eram intrusos, mas já vai longe este tempo. Agora é preciso seguir, fechar os olhos para a poeira que vêm da construção, e atravessar com cuidado.
Nas ruas Ó de Almeida e Aristides Lobo a placa de "homens trabalhando" adverte que o pedestre deve, definitivamente, abrir mão de andar na calçada- mesmo que há tempos esta já esteja reservada para carradas de areia e cimento- e esperar até que os novos dirigentes da rua terminem sua lavagem de mangueira; afinal, mesmo aqui é preciso limpeza e os trabalhadores se empenham. Enquanto na surdina mais um metro de calçada vira parte do mais novo lugar. Os moradores do bairro? Bem, espero que as lojas não sejam tão caras. A prefeitura? Talvez, meu caro, daqui a quatro anos.
Ao meio dia é o intervalo. As marmitas de papel de alumínio chegam dos sacos plásticos em bicicletas cargueiras e se sentam no meio fio. A alegria nos rostos, misturada ao sol e ao pó, anuncia mais um dia de suor terminado. Agora virá a tarde e depois a noite, e a madugrada enfim. São outros os homens mas o barulho é o mesmo. O som de ferro e ponteiro, e mais um ou dois sorrisos. É possível ouvir sorrisos. Em volta a cidade cala. Imagina-se a data da entrega. A cidade segue, e atravessa a rua com cuidado.