sábado, 31 de outubro de 2009

De uma moça para um rapaz

Teu amor
por mim

é tão
simples

tão
fino

tão
lindo

que me dá sono

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Poema de Juan Pablo, meu amigo

"EU QUERO UM POEMA HUMICIDA!
UM POEMA QUE DÊ VIDA

QUE TE BEIJE
QUE TE FIRA

QUE TE DEITE
TE ACORDE

QUE TE FAÇA IR AO SUL PENSANDO QUE É O NORTE "

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Odeio a palavra poesia

Odeio a palavra poesia porque não significa mais nada e finge que sim, ou pelo menos existem os que pensam que ela diz alguma coisa. E isso me irrita. Nada pior que chamar de amor o que não se pode apalpar nos dentes. O mistério, baby, o mistério...

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

para uma canção

seja o meu amor
até que o amor acabe
até que ninguém mais
lhe espere no portão
até que não nos reste mais fagulhas
na fogueira
e não sejam mais que estrelas
as luzes no céu

seja o meu amor
até que a dor assuma
até que me resuma
um solo de clarim
até que seja frio o braço
da cadeira e sejam só besteira
os filmes daqui.
quem sabe, até que marte
crie climas amenos
e morrer seja o de menos
e partir seja melhor

fique enquanto for ficar.
e só.

domingo, 18 de outubro de 2009

Outro tempo

Virado ao avesso
juro que já não vibro
em fazer versos

Vai ver,
vem vindo,
e meio que sorrindo,
o tempo
de viver.

05-07-07

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Essa história de perder as mulheres- texto de Mário Bortolotto

"(...) Essa história de perder as mulheres. Nós, homens, somos sujeitos tão miseráveis que nos apegamos à qualquer migalha. Lembram de Cazuza, né? "Migalhas e restos me interessam" ou "Nosso amor a gente inventa". Ele sabia, embora dizem que não gostava muito de mulheres pra coisa em si que nos interessa tanto. Mas e daí? Acho que os sentimentos não mudam muito. A verdade é que ele entendia do assunto. Então de vez em quando acontece da gente gostar de uma mulher. Digo, gostar razoavelmente a ponto de inventar algo parecido com "amor" e idealizar histórias e fazer planos. Planos podem matar um pobre iludido. É um passo pra se sentir um grande fracassado. E convenhamos, temos talento pra isso, né? E nós temos propensão a nos iludir. E às vezes acontece da mulher também parecer gostar minimamente da gente. Aí a armadilha tá lá, sorrindo por trás da teia, sabe como é? O que nós nunca vamos entender é que as mulheres tem interesses diferentes dos nossos. Em algum momento de suas vidas, elas podem até voltar a sua atenção para sujeitos como nós que bebem sozinhos esperando vagar a mesa de bilhar. Mas elas vão se distrair em breve. Há coisas melhores por aí, desde um sujeito que sabe se vestir e falar as palavras certas até alguma marca nova de batom que só elas conseguem diferenciar. Então o melhor a fazer é beber de alguma garrafa e procurar se iludir o menos possível. Vamos continuar gostando muito delas. E não há nada que possa impedir isso. E assim vamos seguindo pro fim. Talvez algum motorista desavisado e maluco apareça e nos jogue pra fora da estrada, mas se isso não acontecer, prosseguimos em nossa caminhada de formiga cdf para o fim inevitável."

Mário Bortolotto

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Fala Hilda!

Dez chamamentos ao amigo

Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo.
Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse

Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.
Te olhei.
E há tanto tempo
Entendo que sou terra.
Há tanto tempo

Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos altivez.

E mais atento.(I)

Hilda Hilst

P.s: oBRIGADO, aNDRÉA!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Escritores

Hilda Hilst gostava de criar cães e de beber vinho e de sonhar que podia tudo em sua chácara no fim do mundo. Dizem as más (e também as boas) línguas que nas noites de lua cheia voava enlouquecida sobre a casa do caseiro, cantando uma canção aguda e triste, semelhante a um mantra.

Outros falam sobre sua morte.

Diz-que vestiu-se apenas com um lençol amarelado. Seis da manhã de um feriado, mesmo que todos os dias na chácara fossem feriado, foi nadar no rio que passava atrás da samaumeira. Contam, entre dentes, os empregados, que alguns dias depois encontraram piranhas mortas, abertas, inteiras, na beira, com versos saltando do bucho. Hilda gostava de poder tudo.

domingo, 11 de outubro de 2009

Um pouco de Jards Macalé e Wally Salomão

Há tempos uma canção não falava tanto comigo. Demais.



Mal secreto

Não choro,
meu segredo é que sou um rapaz esforçado.
Fico parado, calado, quieto.
Não corro, não choro, não converso.
Mascaro meu medo.
Massacro minha dor,
Já sei sofrer.
Não preciso de gente que me oriente.
Se você me pergunta
Como vai?
Respondo sempre igual,
Tudo legal,
Mas quando você vai embora,
Movo meu rosto no espelho,
Minha alma chora.
Vejo o rio de janeiro.
Comovo, não salvo, não mudo
Meu sujo olho vermelho
Não fico parado, não fico calado, não fico quieto
Corro, choro, converso,
E tudo mais jogo num verso
Intitulado
Mal secreto.


Jards Macalé/Wally Salomão

p.s: Obrigado, Juan!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Ter onde se ir

"A Cabana

É preciso dizer-lhe que tua casa é segura
Que há força interior nas vigas do telhado
E que atravessarás o pântano penetrante e etéreo
E que tens uma esteira E que tua casa não é lugar de ficar
mas de ter de onde se ir"

Max Martins

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Não acredito

não acredito em futuro
nem em sola de tênis all star

ambos tentam camuflar o chão

não resisto a mentiras bonitas
nem a crimes bem contados

eles nunca são em vão

terça-feira, 6 de outubro de 2009

essa coisa

essa coisa de sentir esgota:
ex-gota de chuva
à tarde,
já secou.

nem dá pra escrever nada.

A maldição do pensar

"A maldição do pensar fez suas vítimas: em minha geração, vi muitos poetas se transformarem em críticos, teóricos, professores de literatura."

Paulo Leminski

não fosse isso

não fosse isso
e era menos
não fosse tanto
e era quase

Paulo Leminski

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Conversas após a chuva ácida II

Teve aquela vez
que eu chorei um tenoné inteiro
e um paar e dois greenvile
enquanto vinha de lá
do Conjunto Maguari.
Quase um satélite, mais nem tanto,
já seria exagero.
Entroncamento e desespero;
os meus olhos no chão.

O cobrador dobrava a dor
e eu preferia assim,
"ninguém olha pra mim",
e passa e troca e guarda a grana.
Pobre moço e seu drama,
num ônibus qualquer.
A tragédia moçegava
e me cegava
pendurada
lá na porta de trás.

Chorei a almirante
mais pelo embalo
e via embaçada a ciclo via
feito vidraça e chuva.
Era tanto do poste
e tanto do carro
que até que não
me enguasgei mais.

Veio a josé malcher.
E foi mais rápido
o percurso nos cursinhos
os supermercados
e a vida em movimento.
Pensei em comprar algo
e me alegrei.
Senti o vento.
E me espertei:
o cheiro do canal.
Cheguei.
E ainda tinha coisa pra secar.

Conversas após a chuva ácida I

Ainda bem
que ela acabou comigo
do contrário
eu ia me acabar

foi melhor,
voltei a ser alado...
meio aberto
inacabado
sem risco de terminar