quarta-feira, 4 de março de 2009

Minutos

O moço resolveu não arriscar. Esperou o sinal fechar de novo. Do outro lado o movimento era pouco e as pessoas pareciam temer a cada passo a volta da chuva. Ele queria mais é que caísse de novo e alagasse tudo de uma vez. Uma merda essas poças de brinquedo.

Enquanto esperava e via os carros passarem brilhando do brilho das gotas nos vidros, pensou que não tinha medo. Pensou que poderia sempre fazer o que quisesse. E viu ela chegando e parando, antes de fechar o sinal, do outro lado da rua. Ela também esperava.

Pensou rápido. Ergueu o jornal encharcado de servir de guarda-chuva e mergulhou os olhos, trêmulo. A alta no preço do óleo diesel nunca seria tão útil.

Foi mágico, pois ele não queria, o pescoço e o corpo inteiro erguendo-se em direção à ela. Anos são anos, meu bem, não são dias. Seu braço tentava sozinho sem força abrir-se ao máximo, exibir-se ,vender-se. E o barulho cessou quando o sinal fechou, dos carros, e o do pedestre abriu. Só conseguiu sorrir, sorrir. Mas ela nem notou, eu acho, pois passou sem mais, do mesmo jeito que parou. E foi.

Então a noite pôde descansar as luzes. E a chuva voltou.

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