quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Pobres Tímpanos Meus

vão dizer depois que era melhor ter cedido mais um pouco
ou ao menos esperar o cacto murchar antes das mãos do moleque.
vão pôr a culpa no tempo que me foi colocar jovem nos anos 2000.
vão tentar encher de pesos minha parca consciência e soletrar o futuro
em planilhas, apostilas, macetinhos de cursinho, vida em diminutivo.
vão consultar o tom de cinza dos pêlos de William Bonner
pra saber sobre o clima antes mesmo de ir dormir.
ontem mesmo ofereciam angústias a domicílio. vi, eu vi, mas não me coube
nas frestras do orçamento, nas arestas sobre os sonhos
sobre o meu chapéu de palha.
vão imaginar cidades de vontades enlatadas: funções devidamente escancaradas.
funções dessas de só interromper quando alguém que realmente quer falar abrir a boca,
dessas de tardes castradas sob calças jeans, dessas de bonecas velhas da irmã mais velha, travesseiros,
talco barla, se me faço entender. vão mover todos os lábios sem cantar.

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